terça-feira, 26 de junho de 2012

Viagem

Peguei o ônibus do absurdo e voltei ao passado. 
Disseram-me que ele era mais bonito, que tinha mais flores no bosque. 
Lá, a primavera era mais florida, o inverno era menos frio, o céu mais azul, a grama mais verde.  Disseram-me que eu sorria com mais frequência, que meus olhos brilhavam furtivamente, meu toque era mais macio, meu coração palpitava acelerado, minha alma era mais leve, minha alegria mais pesada. 


Desci no ponto da indiferença, e vi você passar pela rua da sensibilidade, esquina com a paciência. Eu percorri a dúvida e te encontrei caminhando pela tolerância. 
Mas, em passos rápidos e precisos você virou na lembrança.
Eu te perdi de vista, segui em frente pela esperança. 
Passei pela praça da compaixão, cruzei a solidão, atravessei a retidão, passei pelo farol e te vi me olhar da viela do perdão. 


Seus olhos desviaram, seus braços amoleceram, seu corpo declinava devagar, segundo a segundo, seu pescoço fazia a curva, os membros iam junto, vi o seu ombro passar por mim, depois vi as costas, depois não vi nada. Você sumiu na multidão.


Deparei-me que estava na alameda da incerteza, fui até a tristeza, e andei, a passos largos e efusivos, sem direção. Percebi que cheguei na saudade, me perdi, e não sabia mais voltar. 


Tamiris Gomes