É uma caixa de presente. É rosa, tem um laço de um tecido que eu não sei o nome e possui uma textura que também não sei explicar, mas é bonita.
A caixa não embrulhou, ela foi o próprio presente. Estávamos no carro, em frente a igreja, quando minha mãe virou-se do banco do passageiro e me deu a coisa rosa. Minto! Veio com uma nota amassada de R$ 5 dentro. Nossa! Fiquei tão mais feliz de ter encontrado o dinheiro do que qualquer outra coisa.
Não lembro a idade que tinha, talvez oito anos, ou nove, ou dez. Não me recordo do porquê recebi a caixa, mas desde então esse pedaço de papelão foi o lugar onde guardei tudo o que eu queria esconder e tudo o que não queria esquecer.
Tem mil e um trecos, objetos inúteis, medalhas de ouro, prata e bronze das competições de basquete, diários, figurinhas, fotos de excursões da escola, cartinha de amigas, recadinhos do correio elegante, e até carta de amor que não foi pra mim - guardo nessa caixa uma pequena história de paixonite adolescente da época. Vira e mexe a vasculho, pra sentir nos dedos o sabor daqueles anos.
Isso me lembrou uma das cenas do filme "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain", em que o personagem, restituído da caixa que guardava objetos enquanto menino, diz: "A vida é engraçada. Para a criança, o tempo não passa, e de repente temos 50 anos. E o que nos sobra da infância cabe em uma pequena caixa enferrujada".
E... O que me sobra da infância cabe em uma pequena caixa rosa. Mas a caixa rosa é também o que me falta. A caixa é preenchida por saudade, de uma saudade que tem cor.
Rosa.