terça-feira, 17 de julho de 2012

Diferente


Saio eu pra tomar o trem de manhã - atrasada - em direção ao metrô República. Tudo isso, depois de trocentas baldeações e, claro, se tudo ocorrer bem e a composição não parar no meio do caminho alegando aguardar movimentação do trem a frente. Em Guaianases, desço. Daí, fui direto a outra plataforma, e fiquei a espreita da chegada do trem. 


Uma senhora cutuca o meu braço e pergunta se é ali onde se espera para ir até a Luz. Respondo que sim. Simpática como só ela, começou a tagarelar dizendo que a estação estava muito melhor do que no tempo em que vivia lá. Há 10 anos. Aproveitei a ânsia dela em querer papear e perguntei onde morava. Espírito Santo. Lá não tem trem, as pessoas só andam de ônibus. Ao lado dela, um senhor, seu esposo. Caladão. Mas, os olhos brilhavam. Eu, já angustiada para que o trem chegasse logo; ele, vislumbrado com as enormes pilastras e arquitetura da estação. Ela então disse: "É a primeira vez que ele anda de trem." 


Quando o trem chegou, notava-se o desespero dele e a vontade dela em liderar. Arrastado pelo braço, aquele senhor, naquele momento, fazia algo pela primeira vez em sua vida. Fui para o cantinho, perto da porta, eles me acompanharam. Conversei com ela sobre algumas coisas. Ele divagava. A infinidade de prédios passava através do vidro riscado do trem, ele não piscava. Até que soltou: “Aqui tudo é diferente.” 


Também comecei a prestar atenção nos prédios, e a pensar em um lugar onde eles não existissem. E, realmente, eles eram diferentes, partindo desse ponto. Diferente porque eu não os via, e vendo, me surpreendia. E então, aqueles dois idosos, com toda a ingenuidade, me ensinaram um exercício pra vida: olhar como se nunca teve; amar como se tivesse visto pela primeira vez. 

Pulo no Brás e me despeço. Diferente. 


Tamiris Gomes


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