sexta-feira, 28 de dezembro de 2012
Nota sobre o cômodo
Em 2012 coube tanta coisa, e todo o 2012 coube dentro do coração. E ainda sobrou lugar. Sobrou porque dei a você. Dei a você um cômodo inteiro, mais sala, cozinha e ainda dividi uma gaveta do meu armário. Se quisesse você ficaria até com o quarto. Dei, sem pensar, porque a sua estadia era eu quem queria pagar. Eu pagava e você ficava, eu é que me cobrava. Mas você se cansou de morar cá dentro, deve ser porque te dei espaço logo de cara. Mas eu também fui tola, abri a porta e lhe dei as chaves de casa. Fui tola. Devia era ter de dado o quartinho empoeirado. Não, devia era ter dado só um colchão pra tu dormir no sotão. Lá, onde fica tudo que é esquecido. Quem sabe assim você não sentia falta dos ares da casa, das janelas, do sol comprido entrando pelo vidro. Quem sabe assim você não armava sua rede no quintal, pra ver as manhãs, comigo. Aliás, nem devia era ter te convidado pra morar aqui. Esqueci que a porta só fechava por dentro. Então você foi. Mas se eu pudesse te prendia lá. Você não quis mais morar no barulho do músculo, no afago e palpitação ora lenta e acelerada que a tua presença na casa despertava. Meu coração parou de bater porque você bateu foi suas asas. Voou. Quis morar noutros cantos, e levou a chave. Mas espero que o verão passe e que você também passe. Passe feito nuvem, chuva, tempestade. Porque se voltar um dia, saiba que troquei a fechadura e que a porta agora é uma grade.
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Ressuscitando esse texto porque ele é: perfeito.
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