sexta-feira, 6 de setembro de 2013
Mesmo assim sorria
Antes
de mais nada já vou me desculpando, por amolar vocês, mais uma vez, com
essas minhas histórias. É que eu saí de casa hoje e esqueci a carteira
em casa, percebi isso quando estava confortavelmente dentro do trem. E
pra minha surpresa, não havia saldo no meu bilhete e pra melhorar, perdi
o fretado da empresa. Não tinha dinheiro pra prosseguir a viagem com
ônibus comum. O jeito foi esperar pelo
próximo fretado, que passaria dali 2 horas. Fui me encostar nuns bancos
da estação, perto da rodoviária e abri meu livro. Nisso, um passarinho
posou e começou a rodopiar pelos assentos. Parei de ler pra contemplar a
performance. E divaguei. Eu ali, sem poder me 'mover', presa, porque
dependia de mundo, do material. Ele não dependia, tinha nascido com
asas, não precisava de extensões. Era pássaro. Pensava, enquanto ele
comia migalhas de pão deixadas no chão. Deu a hora, desci correndo, não
prevendo a lição que receberia nos próximos segundos. Na rampa que dá
acesso a avenida e ao ponto vejo um homem. Um homem empurrando uma
cadeira. Um homem empurrando uma cadeira com uma mulher. Um homem
empurrando uma cadeira com uma mulher que tinha os pés atrofiados. Um
homem empurrando uma cadeira com uma mulher que tinha os pés atrofiados,
e que sorria. A cena apertou minha garganta e senti vontade de chorar, e
não escrevo isso pra parecer que sou humana, ó. Não. Minha garganta
apertava e engoli a saliva dolorosamente. Na minha humanez mesquinha,
quis também engolir o choro, por vergonha. Ela tinha os pés atrofiados, e
sorria. Ela subia sendo carregada e eu descia a golpes. Eu, que por
duas horas me senti prisioneira, reclamei por não ser pássaro, por ter
pés mas não poder andar. Aquela mulher tinha os pés atrofiados e não
andaria por uma vida, e mesmo assim sorria.
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