quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Tensão e violência no México


Dados da Campanha Emblema de Imprensa (PEC, em inglês) revelam que em 2011 o México foi considerado pelo segundo ano consecutivo o país mais perigoso para se exercer a profissão de jornalista. Estima-se em 12 o número de jornalistas assassinados, com exceção dos desaparecidos. Tal fato culminou em 2006, no início do mandato de Felipe Calderón, quando este instituiu tropas do Exército para combater o narcotráfico. Desde então jornalistas mexicanos têm sofrido ameaças de grupos narcoguerrilheiros e vivem sob o impasse do crime organizado e do Estado, pois ambos os veem como inimigos e força contrária aos seus interesses, o que impede a livre expressão da imprensa, como também viola o direito à informação.

Aqueles ataques em que a vitima é um jornalista, em minha opinião, podem e devem ser considerados crimes federais”, disse o presidente Felipe Calderón, em discurso em dezembro de 2011. Segundo informe público da Comissão Nacional dos Direitos Humanos do México (CNDH), medidas para a inibição destes atos de violência já foram solicitadas e a responsabilidade de proteção aos jornalistas é do governo, “é indispensável que as autoridades competentes empreendam ações necessárias e contundentes que possam garantir condições de segurança e prevenção suficientes para o desempenho destes profissionais e que implementem  políticas públicas a respeito."


 Omar Torres/AFP/Imagens Getty





Site da CNDH: http://www.cndh.org.mx/

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Um caso na Cracolândia


Na madrugada de um sábado tive a experiência de ir à Cracolândia. Estávamos próximo da estação de trem Júlio Prestes e ali decidimos descer do carro para conversar com aquelas pessoas, invisíveis para a sociedade, ou visíveis negativamente. O intuito desta nossa "aventura" era parte integrante de um trabalho acadêmico. Precisávamos de um depoimento com declarações sobre os efeitos destruidores da droga, do vício, afins. Ao chegarmos, fomos bem recebidos. Conversaram conosco, respondiam toda e qualquer pergunta, mas não permitiam ser gravados. De forma alguma queriam ser gravados, nem em vídeo ou áudio. Relatavam que a imprensa é "deturpadora" e o medo deles é que isso fosse parar na internet, na TV. Alegavam que tinham família e não queriam ser expostos desta maneira. 

Ivan, usuário de crack, alto, moreno e de bigode, foi um dos que armou a conversa com os demais colegas. Expressava-se bem, era articulador, esperto e sempre que ia fumar se afastava de onde estávamos. Ali, falamos também com o Marcelo, usuário de crack, moreno e magro, que ficou o tempo todo sentado. Marcelo diz que era designer gráfico, morava no Rio de Janeiro e que possuía vários imóveis em São Paulo. "Cheguei a gastar R$ 40 mil em drogas em 15 dias", diz. 

Antônio, usuário de crack, já trabalhou como fresador, moreno claro, de barba, calmo - o que menos falava. Ele nos contou que tentou parar de usar drogas cinco vezes e não conseguiu. Antônio diz que sua família o ajuda eventualmente. "Estou há duas semanas sem tomar banho", confessa.  Alex, também usuário de crack, negro, jovem, diz que não sabia ler, mas que fazia tudo quanto era trabalho artesanal. Era aparentemente o mais alucinado, se movimentava demais, ia até nós e depois voltava para onde estava mas, queria estar envolvido e participar da roda.

Durante 1 hora ficamos ali, tirando as nossas dúvidas enquanto jornalistas e também pessoas, porque é impossível não se comover. Nos contaram que quando aparece uma criança na esquina, gritam "anjo" e todos param de fumar, por questão de "ética". Mas ética em um lugar como aquele? Pois é. O mesmo acontece quando precisam "utilizar o banheiro", é desrespeitoso fazer as necessidades à vista de todos, principalmente mulheres. Disseram que há um compartilhamento de comida, que ninguém passa fome.

Depois de tudo, quando estávamos para ir embora, o Ivan disse que deveríamos pagá-los pela "entrevista" - entrevista essa que não havia sido gravada. Foi esse o momento mais tenso. Formou-se um círculo e começaram a discutir entre eles, uns queriam aliviar a barra para nós, outros diziam que deveríamos pagar. Uma das pessoas que nos acompanhava na empreitada sacou R$ 30 da carteira. Alex não esperou o veredito final, pegou o dinheiro e saiu, sem dizer que ia dividir com os outros. Ivan se irritou, nos acompanhou até o carro e disse que deveríamos dar mais dinheiro para ele, pois se ele voltasse sem nada ele ia se "ferrar", em todos os sentidos. Tínhamos mais R$ 30 no carro. Nessa confusão, Ivan permitiu que o gravássemos dando um depoimento. Foram mais ou menos 20 minutos de vídeo. Nos agradeceu - irônico -, pegou seus "trintão" e foi.



Na estrada de volta para casa, vento nos cabelos ao som de um rock clássico, pensei em tudo o que havia acontecido. Termino com algumas palavras de Ivan: “vocês ganharam uma experiência, foram corajosos.


Talvez Ivan esteja certo. Mas não me sinto corajosa, apenas mais humana. 

PS: Perdi minha câmera nesse dia e até hoje não revi o depoimento que gravei do Ivan. Perdeu-se. 


quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

A lágrima


Ontem pela noite, em uma das poucas vezes que consigo assistir TV (digo assistir mesmo), passo por um determinado canal e vejo uma matéria sobre o caso da menina Lavínia. Não me interessa se fulana era amante do pai, do tio, de sei lá quem e nem tão pouco os 'por ques' e 'porques' da mídia e da sociedade, o que sei é que uma criança, um ser sem mácula, puro e de feições angelicais pagou um preço o qual não deveria.

Ao olhar aquelas cenas, o drama da família, o fitar cansado de olhos que tanto já choraram bastou, para que uma lágrima saltasse e rolasse sobre meu rosto. Posso dizer que tenho facilidade em me emocionar, coisas simples me fazem fantasiar, mas essa lágrima significou muito. Foi uma lágrima de compaixão.

Pergunto-me, até quando o ser humano vai matar a si mesmo? Até quando vai preferir dinheiro a dignidade? Optar por drogas em vez de felicidade? Corrupção ou honestidade? E não se compadecer.

Enxugo a lágrima. Desligo a TV.

Desligo.



*Texto postado em 04/03/2011 em um blog meu que não existe mais. Para quem não se recorda da notícia descrita acima clique aqui.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Sai ano, entra ano


Eu poderia escrever aqui tudo de bom e ruim que me aconteceu nesse ano que passou. Descreveria com alegria os momentos inesquecíveis e as pessoas especiais que conheci. Falaria das frustrações que me atormentaram e finalizaria com uma palavra esperançosa e de consolo. Desejaria um feliz 2012 para todos e continuaria com a minha hipocrisia.

Sabe o que de mais importante eu fiz em 2011? - Vivi. Vivi na faculdade, vivi no trabalho, vivi no amor, vivi na família, vivi na igreja... Vivi e não me arrependo. Se por ventura vivi errado, a vida há de me dizer, se vivi certo, ela há de me recompensar.

Um ano sai e o outro entra como sempre ocorre desde quando me entendo por gente. Aí, o povo solta rojão e fogos de artifício para celebrar a chegada do ano novo, mas para mim deveríamos comemorar era o fim, não o começo.  Alegrarmos-nos pelo fim de mais uma etapa cumprida, pelo fim de uma fase de nossa vida, pelo fim de uma era que foi consumada...

Não passe a vida contando os dias, faça planos para amanhã ou para agora se possível. Não dispense convite de amigos, saia na chuva, faça aquilo que jamais acreditariam que você faria, faça aquilo que você jamais acreditaria que faria.

Em uma conversa com um amigo, ele me disse que certa vez um professor lhe disse: “Qual é a prova que você existe?” e ele prontamente respondeu: “Porque os outros me veem, porque eu converso com as pessoas...” e o professor não satisfeito continuou: “E se não existisse ninguém no mundo, como você provaria que você existe?” Meu amigo não soube responder.

Essa pergunta ficou latejando na minha cabeça. Qual é a prova que eu existo? Eu não sei. Também sugiro que você lhe faça a mesma pergunta.

Agora é a vez de 2012. Ele chegou com 366 dias todos feitos para você. Viva-o e se prove.